Às vezes acredito que posso lhe esquecer, só às vezes mesmo. Imagino que devem existir outras pessoas que possam fazer meu coração tremer, minha pupila brilhar, a vontade acender... Eu às vezes realmente acredito nisso. Mas só às vezes. Ocasionalmente penso que você não é o melhor para mim, não cuida de mim, não se preocupa, me faz mal... Aí tenho a certeza que devo abandonar esse barco. Chego a preparar o bote, chego a anunciar que vou à terra firme... Mas aí fico com medo da despedida...
Às vezes acredito que você vai mudar, mas só às vezes mesmo. Imagino que você me falará tudo que eu desejo ouvir, que seu coração pulsa, que seus olhos me procuram e que tem desejo por mim... Mas só às vezes acredito nisso. Sinto-me só na embarcação, o vento parou de soprar... Aí a certeza chega que devo abandonar esse barco. Chego a preparar o bote, chego a anunciar que vou à terra firme... Mas aí fico com medo da descida...
Às vezes acredito que vou sobreviver a isso. Aprenderei a nadar por outros mares, desbravarei novos oceanos e novos amores. Penso na maravilha disso e até chego a navegar bem, embarcam a felicidade, a esperança e o amor próprio... Aí a certeza me leva para abandonar esse barco. Preparo o bote, anuncio que vou para terra firme... Mas aí fico com medo da perdida...
Às vezes tenho raiva de você. Você me disse e fez coisas que me deram esperanças... Achei que se eu preparasse a navegação iríamos viajar nesse mar.... Acreditei que a lua estaria cheia, o sol quente e você presente. Você não embarcou, o barco não saiu, o coração não esquentou. Que certeza tenho que devo abandonar esse barco! O bote está pronto, a terra firme à minha espera. Mas e o medo da despedida, da descida e da perdida?
Às vezes tenho raiva de mim. Não aprendi a navegar sobre esses mares, errei o caminho, a direção... Não deveria ter feito isso comigo. Exagerei nas idas, nas vindas, na permanência... Não procurei ver o que estava no fundo do oceano, e vi o que não tinha... Achei que poderia mergulhar em um mar revolto, esqueci que não sei nadar. E por mais que tenha pego o bote, olho para trás, sinto saudade, dói a perda e a despedida. A incerteza vem comigo, não me abandona. Eu continuo olhando para trás e não foco na terra firme. Pelo menos eu sei que ela existe, apesar do medo que persiste...
Helena Pinheiro J. V.
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